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Por Caio Cesaro
A produção e o consumo de filmes verticais cresce à medida que novos tipos de câmeras e telas permitem que as pessoas captem e visualizem imagens em movimento em formatos não tradicionais do cinema. O padrão horizontal da tela para o cinema apenas obedeceu a maneira como nós enxergamos. E ainda, mesmo considerando que temos a visão periféria no eixo horizontal maior do que no vertical, quando a nossa mão torna-se o suporte para a tela, o vertical faz muito sentido.
A partir dessa condição, uma multiplicidade de possibilidades se abre em termos criativos e de exploração e utilização da linguagem audiovisual, sem limitação para temas ou gêneros. Observa-se que a linguagem visual para o formato vertical ainda está tomando forma. Não há que se considerar hoje o cinema vertical uma inovação enquanto formato, pois o cinema vertical não é uma novidade. Mas é certo dizer que estamos mais prontos do que nunca para ver o mundo e o cinema nesta outra perspectiva.
Quando se pensa em cinema, deve-se considerar uma linguagem aberta à experimentação, à inovação. O cinema não deve ser sempre a mesma coisa, ter sempre o mesmo ritmo, usar sempre a mesma estética. O cineasta deve ter a liberdade para criar. A partir de uma realidade na qual hoje a câmera pode estar à mão (acessível) e nas mãos das pessoas, o uso da câmera na vertical encontra-se como mais uma possibilidade para a construção de narrativas audiovisuais.
Cinema vertical: produção e público
O cinema vertical proporciona uma intimidade automática. Embora haja registros de um número significativo de experiências de exibição pública em telas grandes na posição vertical (abordarei este tema em um outro artigo), é natural considerar que a audiência em smartphones seja o mais usual para este tipo de formato. E assim a sensação de maior intimidade se estabelece, considerando a ideia do conteúdo chegar diretamente às mãos do seu público.
Aplicativos como o Snapchat, o Instagram (IGTV) e o TikTok tornaram, especialmente aos jovens, os filmes verticais uma tendência. Por exemplo, mais de meio bilhão de pessoas estão consumindo o Stories do Instagram. Quando o Snapchat entrou no mercado e começou a fazer um sucesso surpreendente, poucos creditavam o sucesso ao formato e não à plataforma. Snapchat não entendeu isso e recusou a oferta do Facebook para adquirir a rede por US$3 bilhões.
O design dos smartphones foi pensado para caber na mão e ser usado na vertical. Não apenas para as chamadas telefônicas de voz, mas também para fotografar e gravar vídeos e para ver as fotos e assistir os vídeos. E esse uso do aparelho na vertical acontece de modo fácil e intuitivo para os usuários. O diferente, na verdade, deveria ser ter que virar o celular (na horizontal) para assistir um vídeo ou ver uma foto. As plataformas na internet entendem isso cada vez melhor, incentivam a produção e o consumo de vídeos verticais.
Cinema vertical: linguagem
A produção de filmes verticais, para uns, pode representar uma postura contra o padrão; a busca por ser diferente; de ser contra o status quo. Para outros, pode representar a busca pela inovação, não impondo limites à própria capacidade artística.
O cinema vertical não é maior ou menor do que qualquer outro tipo de realização audiovisual. É mais uma opção para criadores. É diferente ver um conteúdo audiovisual no eixo horizontal e vê-lo no eixo vertical. Muda o campo, muda o trato com a linguagem. Caberá observar regras práticas verticais, questões de composição de filmagem, situações de produção, entre outras.
É provável que o que mais chame a atenção ao assistir filmes verticais seja perceber quantas coisas no mundo são predominantemente verticais, em especial, o corpo humano. Por consequência, o que está ao redor do corpo humano, naturalmente preserva o aspecto vertical também: edifícios, portas, elevadores, escadas, geladeiras, armários. Na natureza, também se observa a mesma estética: árvores, morros, e por aí vai…
Também é possível dizer que o cinema vertical desloca a cena de uma perspectiva coletiva para o individual. Para mostrar uma pessoa inteira e de pé, o vertical cumpre a tarefa de forma mais direta. Mas, se a intenção for mostrar um grupo de pessoas postadas em pé, é a imagem na horizontal que tende a cumprir de forma direta o objetivo.
Ainda, do ponto de vista da dramaticidade, da emoção, no cinema vertical os planos ficam mais focados no eixo cima-baixo, privilegiando a perspectiva da gravidade. Enquanto, o formato horizontal (esquerda-direita) parece privilegiar a noção do tempo (entre o que entra e o que sai do quadro).
E dessa forma, o formato vertical pode tornar-se muita mais adequado para tratar (enquadrar) determinados temas. Uma nova dimensão do próprio cinema se apresenta dentro deste contexto que explora a composição de alguns quadros, gerando novos encaixes geométricos e resultando em uma beleza singular. E, para o espectador, à medida que assiste filmes verticais, o formato torna-se cada vez mais natural. O cinema vertical é um movimento crescente.